quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Tratado de Versalhes

É importante que aprendamos que uma paz estabelecida na humilhação dos derrotados se tornará, mais tarde ou mais cedo, no fermento de novas guerras. O Tratado de Versalhes é, disso, exemplo maior. Eis alguns artigos:

Artigo 42 -
É proibido à Alemanha manter ou construir fortificações, quer na margem esquerda do Reno, quer na margem direita, a Oeste de uma linha traçada a 50 quilómetros a Leste deste rio.

Artigo 45 - Como compensação pela destruição das minas de carvão no Norte da França, e por conta da importância a pagar pela reparação total dos prejuízos de guerra devidos pela Alemanha, esta cede à França a propriedade inteira e absoluta (...) das minas de carvão situadas na bacia do Sarre (...). [em anexo a esta parte estabelece-se, no parágrafo 16, que: O Governo do território da Bacia do Sarre será confiado a uma Comissão representando a Sociedade das Nações]

Artigo 51 - Os territórios cedidos à Alemanha em virtude [da guerra franco-prussiana de 1871 e que a França perdeu, ou seja: a Alsácia-Lorena] são reintegrados na soberania francesa (...)

Artigo 119 - A Alemanha renuncia, em favor das Principais Potências aliadas e associadas, a todos os seus direitos e títulos sobre as suas possessões de além-mar.

Artigo 159 - As forças militares alemãs serão desmobilizadas e reduzidas nas condições fixadas mais adiante.

Artigo 160 - A datar do 31 de Março de 1920, o mais tardar, o exército alemão não deverá compreender mais de sete divisões de infantaria e três divisões de cavalaria.

Artigo 173 - Todo o serviço militar universal obrigatório será abolido na Alemanha.

Artigo 198 - As forças militares da Alemanha não deverão comportar nenhuma aviação militar ou naval.

Artigo 231 - Os Governos aliados e associados declaram e a Alemanha reconhece que a Alemanha e os seus aliados são responsáveis, por deles ter sido a causa, por todas as perdas e por todos os prejuízos sofridos pelos Governos aliados e associados e pelos seus nacionais em consequência da guerra, que lhes foi imposta pela agressão da Alemanha e dos seus aliados.

Artigo 232 - Os Governos aliados e associados exigem (...) e a Alemanha a tal se obriga, que sejam reparados todos os prejuízos causados à população civil de cada uma das Potências aliadas e associadas e oas seus bens (...).

Artigo 235 - Com o fim de habilitar as Potências aliadas e associadas a empreender desde já a restauração da sua vida industrial e económica, enquanto não é realizada a fixação definitiva da importância das suas reclamações, a Alemanha pagará, durante os anos de 1919 e 1920 e os quatro primeiros meses de 1921 (...) em ouro, mercadorias, navios, valores ou outra forma (...) o equivalente a 20 000 000 000 (vinte mil milhões) de marcos ouro (...)

Como pode deduzir-se, dinheiro, matérias-primas (carvão e ferro), navios mercantes e navios de guerra, submarinos, aviões, animais, etc. tudo foi contabilizado e a Alemanha foi obrigada a pagar. A título de exemplo, para que se perceba as minudências a que se chegou, diz-se assim


Anexo IV


.................. § 6 - a título de adiantamento imediato, (...) a Alemanha compromete-se a entregar à França nos três meses que se seguirem à entrada em vigor do presente Tratado (...) as quantidades abaixo especificadas em gado vivo:

.............................500 garanhões de 3 a 7 anos;

.............................30 000 poldras e éguas de 18 meses a 7 anos (...);

.............................2 000 touros de 18 meses a 3 anos;

.............................90 000 vacas leiteiras de 2 a 6 anos;

.............................1 000 carneiros inteiros;

.............................100 000 cabras




Anexo V


.......................A Alemanha entregará à França sete milhões de toneladas de carvão por ano, durante dez anos (...).

.............................§ 3 - A Alemanha entregará à Bélgica oito milhões de toneladas de carvão por ano, durante dez anos.

.............................§ 3 - A Alemanha entregará à Itália as quantidades máximas de carvão seguintes:

..................................Julho de 1919 a Junho de 1920: 4 milhões 1/2 de toneladas;
..................................1920 a 1921: 6 milhões de toneladas;
..................................1921 a 1922: 7 milhões 1/2 de toneladas;
..................................1922 a 1923: 8 milhões de toneladas;
..................................1923 a 1924: 8 milhões 1/2 de toneladas,
..................................e, durante cada um dos cinco anos seguintes: 8 milhões 1/2 de toneladas

Nota: Importa não esquecer que o presente Tratado impõe à Alemanha a perda de territórios para novos países, bem como o desmembramento dos restantes Impérios.



Proposta de trabalho:

1 - De que é acusada a Alemanha?

2 - Parece-te justo o clausulado do Tratado de Versalhes? Porquê?

3 - Organiza o tipo de sanções impostas à Alemanha:

sanções territoriais

sanções militares

tipo de indemnizações a pagar

domingo, 20 de novembro de 2011

As armas da Guerra

Costumamos dizer que Grande Guerra foi uma guerra da inteligência, da técnica e dos engenheiros. As armas aqui estão, para provar a inteligência de quem as pensou e a tecnologia que foi necessário inventar para as construir: naturalmente, um trabalho de engenheiros. Todos estavam eufóricos; ninguém imaginava que, de tantas maravilhas, pudesse resultar tamanho horror!






Metralhadoras



Aviões



Tanques




Submarinos, canhões, gases tóxicos...





E tantos outros: granadas, minas... Tudo se conjugando numa horrenda orquestra de morte!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A Guerra das Trincheiras

Nas trincheiras morria-se aos milhares de cada vez. Comecemos por observar o gráfico que representa os mortos na primeira batalha de Verdun.



A vida dos soldados nas trincheiras era um inferno. Ver algumas fotografias ajuda a compreender melhor, sobretudo se acompanhadas de testemunhos escritos na primeira pessoa. Deixo aqui alguns (cliquem sobre as imagens para as ampliar)



O odor fétido penetra-nos na garganta ao chegarmos à nossa nova trincheira. (…) Chove torrencialmente e protegemo-nos com as lonas e tendas de campanha que lá encontramos. Ao amanhecer do dia seguinte constatamos, estarrecidos, que as nossas trincheiras estavam feitas sobre um montão de cadáveres e que as lonas que os nossos predecessores haviam colocado estavam lá para ocultar da vista os corpos e restos humanos que ali jaziam.

Raymond Naegelen, na região da Champagne.

Entre uma trincheira e a trincheira do adversário distam, às vezes, escassas dezenas de metros: é uma "terra de ninguém" na qual jazem, apodrecendo, os camaradas mortos. Será sobre esses corpos que os soladados caminharão quando for dada a ordem de ataque à trincheira inimiga. As feridas na alma não são, certamente, as mais leves que se trazem da guerra!

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Desenterro um poilu(1) do 270, foi fácil tirá-lo. Há todavia vários soterrados que gritam: os alemães devem ouvi-los porque metralham. Não é possível trabalhar em pé e por um momento tenho vontade de fugir, mas na verdade não posso deixar assim meus camaradas... tento desprender o velho Mazé, que segue gritando: mas quanto mais terra eu tiro, mais afunda: consigo desenterrá-lo por fim até o peito e pode respirar melhor; vou então socorrer um homem do 270 que grita também, mas debilmente, e consigo livrar-lhe a cabeça até ao pescoço, enquanto ele chora e suplica que não o deixe ali. Estão faltando outros dois, mas não escuto nada e volto a cavar para desenterrar suas cabeças. Então me dou conta que estão mortos. Tonteio um pouco porque estou esgotado; o bombardeio continua.

(1)Poilu: soldado raso de infantaria

Gustavo Hefer, 28º Regimento de Infantaria.


Viver nas trincheiras é adiar a morte! A morte chegará pelo fogo inimigo, pelos gases tóxicos que asfixiam ou afogam ou pelas doenças que, inevitavelmente, se contrairão neste inferno de lama!

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Pela manhã, quando ainda está escuro, há um momento de emoção: pela entrada do nosso abrigo precipita-se uma turba de ratos fugitivos, que trepam por toda a parte a longo das paredes. As lâmpadas de algibeira alumiam este túmulo. Toda a gente grita, pragueja e bate nos ratos. Descarregam-se, assim, a raiva e o desespero acumulados durante numerosas horas. As caras estão crispadas, os braços ferem, os animais dão gritos penetrantes e temos dificuldades em parar (…).

E. M. Remarque

Há aspectos das guerras que são pouco mencionados, como é o caso da destruição do meio ambiente. O bosque de Delville era era fresco e belo devido ao seu arvoredo denso. Tornou-se nisto depois da batalha do Somme:





Em muitos lugares, de tão pisados, demorou muito tempo a nascer, até, a erva!

Gostaria muito que abrissem as páginas do Imperial War Museum britânico e do Loyal Edmonton Regiment Museum (clicar nas palavras sublinhadas) e que percorressem as páginas das histórias pessoais lá contadas e documentos apresentados. Bem sei que estão em Inglês, mas tenho a certeza de que a vossa professora aceitará, de bom grado, trabalhar esses textos convosco.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PORTUGAL: o fim do Século XIX


Prometi que vos mostraria uma caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro. Afinal, vou brindar-vos com várias, todas elas retiradas da sua revista Pontos nos ii. Já sabem que, para ampliar as imagens é preciso clicar sobre elas.

Comecemos pela reacção à partilha de África. Nota que Lord Salisbury era o primeiro ministro inglês e que John Bull representa a própria Inglaterra. O Zé Povinho, como bem sabes, representa Portugal (essa figura é a mais genial criação de Bordalo Pinheiro)

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1 - Que críticas consegues ler nestas duas caricaturas?

Agora, a reacção perante o Ultimatum britânico a Portugal.

Recorda-te que ele foi enviado após o fracasso das negociações em torno do mapa cor-de-rosa. Posteriormente, Portugal e a Inglaterra iriam entender-se e assinar um tratado em que se estabelecem as fronteiras das respectivas colónias. É a esse tratado que se referem as duas caricaturas seguintes (na verdade é uma só em duas partes)




2 - Interpreta o comportamento de cada uma das personagens representadas na primeira parte da caricatura.

3 - Que conseguiu alcançar a Inglaterra (2.ª parte)?

4 - Como reagem os governantes portugueses perante o acordo de fronteiras (figuras do lado direito)? E Portugal, como se sente?





5 - Segundo a caricatura acima, parece-te que o autor concorda com as decisões dos tratados com a Inglaterra? Porquê?



Dissemos que as questões relacionadas com a Conferência de Berlim, o ultimato britânico e os tratados com a Inglaterra serviram de tema para a propaganda republicana.


6 - Em tua opinião, qual o significado desta caricatura?